segunda-feira, 3 de dezembro de 2012


Jogos de RPG fazem parte de um gênero complicado. O nicho de jogadores é mais limitado do que gêneros como os de jogos de ação, esportes e tiro (seja em primeira ou terceira pessoa), exigem investimento pesado na produção, enredos longos, diálogos elaborados, dublagem de boa parte dos personagens, bastante conteúdo de jogo e, naturalmente, ainda devem combinar todos esses elementos para lançar um jogo de qualidade e capaz de gerar lucro.

É um gênero em que a maior parte dos jogos possuem inegáveis qualidades, embora poucos sejam capazes de se sobressair aos demais, e menos ainda aqueles que atingem estrondoso sucesso comercial.

Skyrim, o novo título da Bethesda na franquia Elder Scrolls, não apenas é um sucesso de crítica, como também de público. É fortíssimo candidato a melhor jogo do ano, e, arrisco dizer, um dos melhores jogos da geração. Na minha opinião, certamente o melhor no gênero de RPG.


Dizer que um jogo é o melhor RPG da geração por si só já significa uma barbaridade, levando em consideração que se está falando de uma geração que trouxe títulos de qualidade indiscutível, como as franquias Mass Effect, The Witcher, Fallout, Dragon Age, novos títulos da franquia Fable, ótimas surpresas com Daemon´s Soul e Dark Souls, e isso sem contar com a concorrência interna dentro da própria série Elder Scrolls, com o espetacular Oblivion.

O curioso de se avaliar Skyrim é que, se analisado isoladamente, os concorrentes na mesma categoria lhe são superiores em vários pontos. Skyrim tem belos gráficos, um salto em relação a Oblivion, mas não tem o nível de qualidade técnica de The Witcher 2. Mass Effect 2 possui personagens mais carismáticos e de maior profundidade. Fallout possui um universo mais coeso e características próprias mais marcantes. Dragon Age (o primeiro) tem maior complexidade. Fable é mais acessível. Dark Souls é mais desafiador e ágil. 

Por que, então, Skyrim é melhor do que todos eles?

Isso se deve a dois fatores principais. 

O primeiro deles, e talvez o menos importante, é o fato de que no conjunto Skyrim mantém um nível de qualidade que nenhum dos outros consegue manter. The Witcher 2 pode ser esteticamente mais bonito, mas é um universo de jogo que não tem um ínfimo da dimensão épica de Skyrim. Mass Effect 2 possui personagens mais interessante, mas a quantidade de personagens é limitada, tudo gira em torno do personagem principal e o restante do universo é quase invisível perto do protagonista e dos coadjuvantes. Fallout precisa constantemente reciclar seus temas porque o contexto de Fallout é mais restrito. Dragon Age tem tramas complexas, mas pouco que escape ao tronco principal de sua história. Fable é casual demais e seu enredo é trivial e infantil. Dark Souls abdica de boa parte de sua trama em favor da ação.


Mas mais importante do que o equilíbrio de suas qualidades, Skyrim é muito mais RPG do que todos os jogos acima. O que significa dizer isso? Diversamente do que por vezes se propaga, um RPG não se caracteriza pelo fato do personagem “subir de nível”, progredir suas habilidades, melhorar seu equipamento, conversar com outros personagens ou, muito menos, possuir combates por turnos ou uma novela visual. Esses são apenas elementos que costumam estar presentes em jogos que se costumam chamar de RPG, mas não são necessários a ele. RPG, como o próprio nome diz, é um gênero que se caracteriza pela interpretação de papel. Quando essa interpretação de papel é passada para a tela de um jogo eletrônico, essa interpretação se transforma em imersão. Imergir no mundo, muito mais no caso de RPGs do que de qualquer outro gênero, significa a possibilidade do jogador interagir da forma mais ampla possível, com a maior liberdade que lhe seja possível conferir, e, talvez de forma ainda mais decisiva, fazer com que o universo mude e responda a essa interação.

Você sabe que está diante de um jogo de RPG quando o jogo lhe apresenta uma série de problemas, e o jogador possui diversas possibilidade de abordar e resolvê-lo, mas, sobretudo, que a forma pela qual ele abordou e resolveu esse problema é capaz de mudar a forma como o mundo virtual se comporta perante o jogador.


Nós já não estamos mais no universo de apenas passar de fase, derrotar o chefe de uma etapa do jogo, matar todos que estão a sua frente ou explorar um mundo morto em que tudo apenas observa placidamente o que faz o jogador. No RPG o universo precisa ser, quanto mais for possível, dinâmico e interativo com o jogador.

A Bethesda sempre procurou focar nesse ponto de reação do universo ao jogador. Fazer o jogador se sentir efetivamente como alguém que está interpretando um papel em um universo vivo. Mas nunca antes, seja em jogos fantásticos, como Morrowind, Oblivion ou Fallout 3 havia sido capaz de chegar ao grau de refinamento que se vê em Skyrim.

Em Skyrim o universo funciona de maneira tão viva que não apenas o jogador possui plena liberdade de ação e exploração, como já era característico da série, como de maneira realmente revolucionária a produtora elevou de maneira exponencial a reação do universo ao comportamento do personagem, como previu uma quantidade de desdobramentos tão extraordinária de ações possíveis que não é nenhum exagero (longe disso) dizer que é simplesmente impossível esgotar todas as combinações e variantes possíveis de reação do universo a cada ação do jogador. Se nem mesmo ações necessariamente vinculadas a missões que o jogo oferece já fazer com que o universo reaja de forma diferente ao comportamento do jogador, imagine-se agora que ainda existem três modalidades diversas de missões (mais, side e miscelaneous) cujo desdobramento interfere de forma ainda mais significativa no universo do jogo.


A preocupação e o cuidado que se vêem no jogo saltam aos olhos quando se percebe que mesmo locais sem virtualmente nenhuma importância para a história principal, muitos dos quais a esmagadora maioria dos jogadores jamais visitará, foram pensados e construídos de maneira individualizada, apenas para criar a possibilidade de que fossem visitados, e tudo isso minimizando ao máximo a pura reciclagem de conteúdo (sim, Dragon Age 2, estou falando com você). 

Não existe, nem nunca existiu, absolutamente nenhum universo de RPG que tenha a dimensão, a dinâmica, a interatividade e a liberdade absurda de exploração e reação que Skyrim oferece ao jogador.

Não existe, no mercado, nenhum jogo que ofereça uma relação custo/benefício tão extraordinária quanto a proporcionada por Skyrim. 


Mesmo descontado o envelhecimento da engine recauchutada pela Bethesda, mesmo descontados os diversos “glitches” e “bugs” também de se esperar de um universo dessa grandeza, Skyrim é tudo aquilo que qualquer jogo de RPG deve almejar se tornar, e que o sucesso plenamente devido sirva de mola propulsora e estrela-guia para o desenvolvimento dos futuros jogos nesse gênero.

                       http://www.4shared.com/get/4HvIm3rC/Skyrim.html

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